RADIO S.AMB.A

Crítica
Em sua batalha para seguir em frente depois da morte de Chico Science, o Nação Zumbi faz o disco que mais poderia se esperar dele: Radio S.Amb.A. Livre das amarras de uma grande gravadora (por onde lançou os dois discos com Chico e CSNZ, disco duplo com remixes, faixas ao vivo e as gravações feitas só como Nação, pouco depois da morte do líder), a banda de Recife resolveu investir na experimentação e na autoprodução. No aspecto sonoro, pode-se dizer que a empreitada deu certo. Mestre das fusões, o Nação levou bem adiante o bastão deixado por Chico, sem no entanto se desviar dos caminhos anteriormente traçados. A banda juntou tambores (muito bem gravados, por sinal), berimbau, guitarras, rabeca, toca-discos, samples e instrumentos eletrônicos para cozinhar uma grande caldeirada de maracatu, rap, coco, funk, ritmos latinos e reggae. A primeira faixa, Do Mote do Dr. Charles Zambohead, deixa uma boa impressão, com sua esperta batucada. E Radio S.Amb.A. segue numa onda de jam session, com Low Fi Dream ("It’s a mad, mad maracatu"), que chega latina e hipnótica, com as participações de Jeff Parker e Dan Bitney, do grupo americano Tortoise. Psicodelia aplicada ao maracatu – eis o que encontramos em Carimbó (com guitarra trêmolo de surf music), Pela Orla (que tem participação de Fred Zero Quatro), Arrancando as Tripas e na melancólica instrumental Na Balada do Rio Salgado. Algumas faixas, como Quando a Maré Encher, Jornal da Morte e Brasília são mais pesadas, na linha heavy-hardcore, e Zumbi a Zulu é rap, com a participação do papa do gênero, o americano Afrika Bambaataa. O que impera no disco é a curtição de fazer um som. As letras estão longe de serem geniais e Jorge du Peixe não tem metade da personalidade de Chico como vocalista. Não importa: se há um fato a ser destacado em Radio S.Amb.A. é que Nação passou bem na grande prova de sobrevivência artística. (Silvio Essinger)